segunda-feira, 7 de junho de 2010

A História de Nós Duas

Bom, sempre tive vários amigos gays, e as histórias que me contavam eram um tanto quanto excitantes de tão divertida e loucas. Era encontro às escuras, onde a cor da roupa que iria destacá-lo... até, viagens escondidas dos país, com a desculpa de que iria ficar na casa de um amigo para estudar. Mas ouvir essas histórias não se comparava com as emoções que estavam começando a pulsar forte em meu peito, a vontade de vivê-las também, com a mesma ou até mais intensidade.

À beira de meus 18 anos, me vi completamente perdida em um mundo desconhecido!

Pensei que era só curiosidade, como todas as pessoas pensam quando não querem reconhecer o que está desabrochando, afinal! Rs Mas eu fazia o tipo ‘rebelde’, queria curtir de tudo, e por que não radicalizar?! Então, deveria ser só mais uma aventura.

Para realmente entender o que estava acontecendo comigo, eu tinha que achar um jeito... meus amigos não ajudavam muito, afinal eles estavam levando, realmente, na brincadeira essa minha ‘nova idéia’. Afinal, eu era a ‘menina pegadora’ da turma. Em toda festa, ficava com 2 ou 3 caras, ajeitava outros para os meus amigos, falava putaria e sentia ‘tesão’ quando um homem alto, forte, com pernão e bundona passava. Mas nunca namorei sério, o mais longo durou 6 meses e nem era namoro rs Também nunca fui ‘aos finalmentes’ com nenhum. Deprimente, eu sei! (vergonha) rs

Porém, não era assim que funcionava dentro de mim... não era o que eu sentia e, às vezes, nem o que eu queria realmente dizer, mas em meio as brincadeiras, me deixava levar.

Me apaixonei por uma amiga. Não sei como aconteceu, quando ou por que, só sei que aconteceu e aquilo estava me deixando louca. Tinha que tirar aquilo de dentro de mim, não era eu, não era o que eu queria...mas às vezes, era!

Estava sem controle, a cada vez que a via, meu coração disparava, às vezes pensava que ela também estava afim, mas ela tinha namorado... era só simpatia de sua parte. E meu coração sangrava de desespero a cada vez q ela chegava perto de mim.

Me joguei em um mundo q não era meu... um mundo onde eu iria me recriar e soltar tudo o que estava preso em mim, meu coração iria aliviar, me joguei no mundo virtual. Na internet, esse meio tão abençoado, se é que pode-se dizer assim rs

E com algum tempo, encontrei uma pessoa que iria mudar por completo minha vida, uma pessoa de coração tão puro e cheio de bons sentimentos, que transmitia tudo nas palavras que escrevia, em depoimentos no orkut. Rs

Quem disse q ‘internet só tem o que não presta’ não sabe o que é o destino! rs
Pois é... foi no orkut q conheci ‘minha vida’. Um orkut fake. Quem nunca teve um!? rs

Começamos a conversar via depoimento, as características eram tão positivas, as personalidades tão complementares, os sentimentos tão verdadeiros e uma história parecida... ela também estava sofrendo por amor! Tinha acabado um relacionamento há pouco tempo e não buscava outro, mas ela estava no mesmo mundo que eu... vizinhas de mundo, companheiras de histórias, amigas no orkut.

Não tínhamos photo alguma para identificação ou para que existisse interesse físico. Totalmente  ‘às escuras’.

Ah, isso também não iria influenciar em nada, não queríamos mais nos envolver com ninguém, só seriamos amigas mesmo, uma pessoa que estava passando pelo menos dilema que eu, só isso.

Os depoimentos começaram a ficar frequentes, com perguntas e respostas interessante sobre a vida da outra. Com estórias de possíveis encontros, pequenos contos que criávamos. Todos os dias, ao meio-dia, eu e ela estávamos lendo e respondendo cada depoimento. Isso começou a acalmar meu coração sofrido.

O outro dia já estava ficando preguiçoso para chegar, a vontade de ler novas curiosidades começou a dominar minha distração na internet, já entrava só para ver se tinha algo novo. Como essa garota conseguiu me fazer dependente de suas palavras? Inacreditavelmente, eu estava começando a sentir uma falta enorme, uma saudade incalculável quando não tinha depoimento novo, nem que fosse so para dizer que ‘tinha passado por ali’. Como isso estava acontecendo?

Finalmente, trocamos números do celular. Estava no meio de uma aula, quando ele tocou. Sentada, senti minhas pernas trêmulas, sem forças, gelei, o coração, coitado, quase enlouquece de tão acelerado que estava. Atendi. Precisávamos saber quem era por detrás de uma escrita tão envolvente, quem era a que, do outro lado, estava fazendo com que nos prendêssemos uma à outra de uma tal maneira que o dia só era completo quando nos falávamos.

As 2 ou 3 horas que nos durava o telefonema, nunca eram o suficiente por dia. As mensagens de texto eram tão frequentes quanto. A paixão nos pegou de uma forma extraordinariamente pura e sincera. Agora me encontrava em um dilema ainda pior: Estou completamente envolvida com uma mulher que está me correspondendo como nunca imaginei e eu estou profundamente apaixonada. 

Apaixonada?! Ai meu Deus!

Um mês de telefonemas constantes, duradouros e intensos, e estávamos namorando!
Sua foto, só vi agora! O nome verdadeiro, até então ela só tinha me dito um ‘outro’ nome fake. Nosso primeiro encontro, foi 3 meses depois. Estava lá, uma linda e doce menina-mulher de branco, em pé, com mala na mão, esperando por mim. Foi a visão mais linda do meu mundo.

Meus pés não sentiam o chão, a adrenalina tinha tomado de conta de todo meu corpo, minhas pernas tremiam como nunca, minhas mãos gelaram no primeiro minuto que a vi. Meu coração? Nossa.. esse, coitado, estava em ritmo carnavalesco-remixado, fazendo coreografia acrobática. Só bastou um final de semana para eu saber que era ela que eu queria para a minha vida. Para saber que era por ela que eu iria enfrentar o mundo, se preciso fosse.

E de fato, assim foi. O meu mundo caiu sobre minhas costas por várias vezes. Tive crises e mais crises ‘existenciais’, terminei por várias e inúmeras vezes, por não saber ou entender o que realmente queria e sentia. Afinal, estava namorando cada vez mais sério e esse não era a forma que estava acostumada a viver.

O relacionamento com minha mãe já não era bom, por conta de minha fase de ‘aborrecência’ que deixou várias marcas, feridas e grandes cicatrizes psicológicas, se tornava cada vez pior, hora porque eu era muito ‘independente’ nas decisões, hora porque ela estava cada vez com menos confiança em mim, hora porque ela me ouviu falar com minha namorada na extensão do telefone, e em hipótese alguma, ela aceitaria que qualquer um dos filhos fossem gay, preferia uma filha ‘puta’, um filho bandido ou qualquer um deles morto, hora por orgulho ferido.

As brigas com minha mãe, eram cada vez mais freqüentes, a pressão psicológica que sofria era cada vez maior, resultando em término de namoro a cada semana.

Não sabia o que fazer. Sabia o que queria, ficar com ela, mas não sabia como conseguir suportar tudo isso.
Minha pior fase na vida, foi durante a melhor fase de toda a minha vida.

Os conflitos em minha cabeça eram cada vez pior: Ela Vs Ela. Minha mãe, que sempre me tratou com indiferença, comparado ao meu irmão, mas era minha mãe. Vs. Minha namorada, que era a pessoa que durante todo esse ‘pouco’ tempo estava comigo, me fazendo esquecer todos os problemas e conflitos, que me jurava amor recíproco e verdadeiro.

Foi pouco mais de 1 ano e meio, vivendo esse conflito interno, cada vez pior.

Às vezes não agüentava a pressão que estavam fazendo e vomitava tudo em minha namorada, dizendo tudo o que passava e porque ainda suportava isso, e acabava terminando o namoro para voltar 10 minutos depois de muitas lágrimas lavando meu rosto e banhando a alma. Ou explodia a qualquer reação indiferente com minha mãe, apimentando ainda mais as brigas constantes, dando mais conteúdo e motivos para ela se voltar contra mim e eu a ela, enchendo meu coração de raiva e rancor.

Às vezes, sentia-me na linha de tiro, onde todas as miras estavam em mim, sem saber qual tentar desviar primeiro. Como uma bola de futebol no início do jogo, sem saber de qual lado me lançar. E às vezes, ainda conseguia me sentir dentro de um pequeno barco, no meio do oceano, sem nada nem ninguém ao redor, à deriva das ondas, para onde elas me levassem, completamente só e em desespero oculto.

O mundo estava caindo, jogando todo o peso em minhas costas, fazendo-me curvar diante de qualquer pequeno obstáculo, mas ainda assim, bastava falar com Ela no telefone, e tudo, tudo desaparecia, o mundo tomava um colorido inacreditável, o sorriso antes raro em meu rosto surgia com tal facilidade, mas bastava desligar o telefone e todo aquele peso caia com ainda mais força.

Claro que ainda teria muita história para contar, vários episódios, vários conflitos, vários sentimentos, mas acredito que já esta muuito longa essa história aqui. rs

Falo com toda certeza, todo o processo de amadurecimento e aceitação que passei, foi longo e doloroso, como o de muitos homossexuais por esse mundão de Deus.

Pra mim foi como um tratamento de dependente químico, só que no bom sentido, claro! rs Quanto mais eu via o vício: minha namorada, a qual eu estava cada vez mais  apaixonada e dependente, cada vez mais perto de mim; mais eu tinha coragem e audácia para enfrentar os problemas que com ela vinham, direta ou indiretamente.

Consegui com o tempo, suportar tudo e transformar em amadurecimento e crescimento pessoal todos esses problemas e sofrimentos.


Levo comigo tudo o que com a dor eu aprendi e com a doçura eu vivi.

Hoje, 23/05/2010, faz 3 anos que estou namorando Ela, e cada vez mais, tenho a certeza de que é Ela que eu quero para o resto da vida. A amo como nunca amei e acho que nem conseguiria amar. Por Ela daria minha vida, se preciso.

Porque desse vício, eu não quero me livrar nunca!

* Nicole - Ceará

3 comentários:

Tânia disse...

Nicole, que linda superação... Se veio com sofrimento, pelo menos teve a oportunidade de amadurecer. Vale sempre a pena lutar por um amor sincero e verdadeiro. Boa sorte.

Pela Fresta disse...

Lindo! Engraçado com, na maioria das vezes, o sofrimento faz parte de nossos relacionamentos. Passei por uma crise feia recentemente, mas o pouco tempo que fiquei sem ver e sem ouvir minha namorada foram suficientes para reacender uma chama que estava se apagando... pelo menos para mim. Ainda resta confirmar se o mesmo ocorreu com ela. Sofrimento engrandece quando sabemos enxergá-lo como oportunidade de crescimento.
Parabéns pelo blog! Estou adorando a idéia e tomando coragem para escrever a minha história.

betinha disse...

Nooosssa q lindo!! Adorei sua historia...E achei maravilhoso q vcs conseguiram superar tdo pois sei q não dv ter sido fácil, e estão juntas até hj.Parabéns e do fundo do meu coração q vcs sejam eternamente feliz...fiquem com Deus e bjoss