Quando começou? Provavelmente há algumas gerações atrás. Com alguns tios gays, vários primos, minha irmã mais velha... A verdade é que é bem difícil viver uma infância assim, com as pessoas se escondendo de mim por medo de me influenciar. Mas tem algumas coisas que, simplesmente, não funcionam. Preferir as barbies, pedir pra ver revistas masculinas com o pai, Spice Girls em vez de BackStreet Boys, assistir desfiles só pra ver as modelos - quando começou minha paixão por moda, mas não vem ao caso. E a infância foi se arrastando pelo que parecia um tempo infinito, é engraçado como quando a gente é menor o tempo passa devagar demais.
Já aos oito anos, eu realmente não me importava com isso tudo, nem meninos, nem meninas. Até que minha irmã - que na época tinha doze anos - começou a namorar com um garoto da vizinhança, e ele tinha uma prima da minha idade, então sempre que a minha irmã precisava de desculpa para visitar o namorado me levava junto para brincar com a prima dele. O que hoje eu chamo de 'esqueminha' na época era a grande paixão da minha vida.
Passávamos as tardes inteiras correndo por aí ou no quarto dela jogando vídeo-game. Um dia estávamos no porão da casa deles, apenas nós duas, procurando uma bola perdida talvez, independente disso, ela puxou meu rosto e me beijou. Eu tinha oito anos e fui a pessoa mais feliz do mundo naquele instante. Mantivemos esse 'segredinho' durante alguns meses, quando o namorado da minha irmã sofreu um acidente e faleceu. Nunca mais nos vimos. Fiquei totalmente devastada nessa época, eu realmente não conseguia nem me imaginar longe dela, chorava o dia inteiro e, bem nessa época, que comecei a escrever, desenhar e tocar violão. Eu precisava do máximo possível para me distrair daquilo.
Com quase nove anos eu tomei coragem e voltei a brincar na rua. As pessoas tinham mudado, algumas crescido, outras se mudado e algumas novas. Dentre as novas havia uma menina de sete anos que eu sempre esbarrava no meio das brincadeiras, nunca chegamos a nos falar realmente, mas tínhamos algo de estranho. Ela tinha aquele brilho no olhar e quando sentávamos todos para conversar eu sentia o cheiro do seu cabelo, ela realmente tinha algo. A esse ponto da história eu ainda nem sabia o que era homossexualidade, nem pensava nisso, nem pensava que as pessoas podiam se definir pelas preferências físicas.
Eu não lembro exatamente quando ou onde, mas por essa época alguém me falou que isso era errado, mais que errado, que era pecado, que Papai do Céu iria mandar quem sente atração por gente do mesmo sexo pro inferno. Ela me beijou durante um 'verdade-ou-desafio' e eu chorei, chorei porque foi bom, porque era o que eu mais queria, porque eu precisava daquilo e dela. Saí correndo pra casa e nunca mais vi ela de novo.
Foram longos anos chorando no meu quarto por pessoas que me mandariam direto pro inferno, lutando contra o desejo pelo errado. Por que? Porque que era tão errado se me fazia tão bem? Me enchia de papéis, riscava paredes, elas. Aos treze anos descobri que minha irmã tinha uma namorada, uma garota que vivia em casa e elas ficavam trancadas no quarto dela o dia todo. Até então era algo natural, mas um dia eu bati na porta e a minha irmã me pôs pra dentro, me contou que elas estavam juntas e que não contasse a ninguém, que não queria enfrentar a mamãe ainda. Nunca fui tão amiga da minha irmã.
Até que no dia do meu aniversário de quinze anos um dos meus melhores amigos me pediu em namoro e pensei... Esse é o certo. É dele que eu devo gostar. Nos primeiros quatro meses eu tinha muito medo, medo de ficar sozinha com ele, esperança de que poderia gostar dele. Eu gostei. Hoje eu posso dizer que com certeza eu amo a pessoa que esteve comigo durante aquele tempo, mas amor... amor chega a ser algo triste perto de paixões. E aos nove ou dez meses de namoro, durante as reuniões de amigas da minha irmã em casa, eu fiquei horas conversando com uma delas, e horas antes de dormir pensando nela, e meses pensando no quanto aquilo era ridiculamente errado e eu precisava me dedicar ao meu namoro. Eu sou besta. Ela tinha acabado de terminar um namoro com uma garota e estava bem mal, e eu sempre ia na casa dela ver filmes, fazer brigadeiro, dar uma força nesses momentos difíceis.
Quando fiz um ano e cinco meses de namoro eu decidi que precisava terminar, porque jamais poderia ficar brincando com os sentimentos de uma pessoa tão boa e que gostava tanto de mim. Eu não queria ferir ele em hipótese alguma. No dia que terminamos eu disse que o amava, e que eu tinha problemas que não poderia resolver com ele do meu lado, que ele nunca poderia sofrer pelos meus defeitos. Não quis ferir sua masculinidade, simples assim. Hoje ele fala mal de mim por aí... vagabunda, vadia, piranha, cachorra, tem coisas que a gente se acostuma a ser.
Quando terminei aquela garota amiga da minha irmã já estava namorando. E foi difícil lidar com a decisão de ir ou não pro céu. Durante algum tempo eu pesquisei as religiões abraâmicas, o islamismo, a bíblia, bahá'ís e todo tipo de cultura que tivesse alguma posição firme perante o homossexualidade a fundo. Descobri que eram uns babacas. Que talvez eu pudesse estar certa desde o início, que talvez eu não devesse acreditar no que algumas pessoas dizem, mesmo que essas pessoas sejam meus pais ou meus professores. Pesquisei Deus e desde então viramos bons amigos. Ele na dele, eu na minha.
Quando começava a ficar de bem com minha consciência, e pesquisar cursos para o vestibular, apareceu na minha vida uma garota que fazia Moda, não sei se já citei por aí no texto, mas o mundo das grifes e modelos sempre me atraiu de uma forma diferente. E ela, bom, ela era linda, sorriso lindo, toda linda, cabelos longos e cacheados, cachos grandes, sabe? Enfim, musa. Conversamos por alguns dias e talvez nunca tenha me sentido tão encantada... e tão pisoteada. Era descarada a forma como ela me tratava mal sem motivo algum, eu fazia de tudo pra agradá-la e nada funcionava. Me afastei, pro meu bem. Sofri por quase seis meses, renderam boas músicas, boas crônicas, muitas lágrimas.
Foi bom pra mim, isso de sofrer. Cresci. Minhas noções de respeito pelas pessoas, minha educação, meus métodos, minha forma de agir perante as situações, tudo em mim parecia estar mudando e se transformando em algo mais maduro. Comecei a frequentar mais festas, shows, boates, conheci pessoas novas, me diverti muito. Sem promiscuidades. Vi que não precisava 'ficar' com alguém para ter status ou algo assim, esperei por uma grande pessoa que pudesse me roubar um beijo novamente.
Mas essa não é uma historinha com final feliz, ou quem sabe até seja, mas por agora ainda existe o final triste. Numa dessas conheci uma garota linda que vive em festas e sempre me liga pra sairmos, ver filme, essas coisas. Aos poucos fui perdendo o controle sobre o que eu sentia ou não e me deixei levar, quando percebi estava completamente apaixonada por uma grande amiga, amiga, amiga. Repeti pela dorzinha de ver essa palavra pensando nela. Ela sabe, somos amigas. É isso aí, né?
E por enquanto eu estou esperando meu final feliz, mas pelo menos tenho certeza que é muito melhor tratar bem e respeitar ao máximo cada ser vivo ao meu redor do que me preocupar com Deus e o inferno ou o que vão pensar de mim. :)
* Adriana
terça-feira, 29 de junho de 2010
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3 comentários:
olá ..
Bom sua história realmente é sofrida viuu .. várias paixões e o q eu tenho a dizer é sobre o fato de vc ter pesquisado outras religiões e ñ saber q os Bahai's não tem nenhum preconceito ao ser homossexual ...
okei!!!
Baha’u’llah diz que o amor não tem, q ser necessariamente o homem e a mulher !!
Mas muito bom sua história pena q é tão sofrida né !!!!
té mais !!!
vc ainda vai achar um grande amor puro e verdadeiro pra vivier pq vc já sofreu mto por amor e vc merece uma companheira d verdade do seu lado!
Já me encantei por duas meninas que era minhas amigas, amigas amigas hehe
As duas eu beijei. A segunda é totalmente apaixonada por mim e eu sou por ela. Estamos muito bem assim. Eramos muito amigas, mas eu só soube o que ela sentia por mim quando lhe abri meus sentimentos!
Não sei se tive sorte, ou se Deus nos ajuda quando se trata de amor... mas você deveria tentar.
Um beijo!
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