quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Aprendendo a ser diferente

Olá. É-me difícil relembrar o passado, mas quero compartilhá-lo com todas vocês.

Quando eu tinha 5 anos tive meu primeiro caso dito antigamente homossexual, que devido as circunstâncias me foram traumatizantes. Ela era minha amiga, só que depois de um certo tempo começamos a fazer coisas no banheiro que nos provocavam orgasmos, ou quase isso - lembro que era bom demais, porém não me deixava confortável.

Acontecia sempre no final do dia, antes de eu voltar para casa. A mãe dela nos via e até achava legal, e por causa da presença dela eu achava que não fosse nada "errado". Provavelmente Tatiane (minha amiga) tinha essas ideias ao ver o pai dela assistindo na sala filmes pornôs, isso mesmo: ele não tinha a menor atitude para disfarçar e trocar de canal em nossa companhia.

 Ao chegar as férias meus pais deixaram eu levar a Tatiane conosco, ir para nossa casa de veraneio. Ela foi. E assim me fez desbravar mais momentos que não gostaria de ter tido. Mas houve um em especial que foi, para mim, a gota d'água em minha consciência.

Um dia meus pais precisaram sair e nos deixaram com meus irmãos, então Tatiane teve a incrível ideia de irmos para o quarto dos meus pais para brincar de teatro. Eis que ela me pede para ser "Romeu &Julieta", e que eu fosse o Romeu.

Pois bem, foi nesse instante que reformulei todas as nossas histórias juntas e percebi que era a coisa abominável pela sociedade. Eu não tinha interesse por garotas ou garotos naquela época, simplesmente era feliz. Resolvi aceitar só para ver até onde ia, eu era alguém fraco e não gostava de deixá-la chateada. Fizemos as primeiras falas e, de repente, ela me pede para virar as costas e aguardar. Tudo bem.

Ao desvirar-me ela estava despida na cama e me chamando para ir ao encontro dela. Eu sabia como era a peça e não queria fazer aquilo!

Era repulsivo pra mim, mas ela tinha algo que me controlava e eu fui. Não chegamos a fazer nada demais, para minha sorte meus pais chegaram no momento e já viram, nunca mais vi Tatiane. Minha família resolveu se mudar, e nunca mais tocaram no assunto comigo.

Evitaram, simplesmente parece que fizeram questão de esquecer e não encarar os fatos do que eu poderia ser. Conforme os anos passaram, eu fui modificando meu jeito de ser. De guriazinha acabei por ser guri. 

Quando eu tinha 14 anos fui nomeada o guri mais bonito do ensino fundamental - O GURI! 

Como meu grupo de amizades era limitado, a grande maioria do colégio achava que eu fosse um guri, mesmo naquela época eu ter cabelo grande e nome ser de guria. Assim que a notícia foi parar ao meu ouvido, quase morri de vergonha.

Tudo bem, eu achava uma guria bonita, ela era de outra turma e provavelmente não fazia ideia do que eu era(afinal, nem eu sabia!), além do mais, a partir desse fato, finalmente, que me aceitei diferente. Eu adorava dar atenção a ela nos intervalos, olhá-la a passar por mim, virar-me e perceber que ela também havia se virado para me olhar.

 Talvez por isso, pelas pessoas perceberem, achavam que eu fosse guri. E então quando tudo veio à tona milhares de gurias vieram falar comigo, e eu não falava nada de tamanha vontade que eu sentia de ser um avestruz e enfiar minha cabeça em algum lugar para me esconder.

No final do ano eu já havia sido aprovada, sempre fui uma das melhores da classe e passava ainda no 3º bimestre. A guria que eu gostava começou a ficar mais presente em minha sala de aula, não nos falávamos, olhávamo-nos muito, e era nesses encontros de olhos que tudo nos era revelado a nosso respeito.

Acabou que namoramos por algumas semanas, antes do ano terminar e eu mudar de colégio por ter passado para um colégio federal. E eu não disse a ela que era uma guria, para ela eu era um guri - todos achavam isso de mim, ninguém achava esquisito nos ver juntas.

 Toda noite, desde aquele fato na minha infância aos 5 anos, que eu antes de dormir pedia a Deus para alterar meu sexo.

Sim, eu desejava acordar no dia seguinte e descobrir que eu, na verdade, era um guri.

Enfim, curiosamente eu não menstruei até os meus 16 anos, e então minha mãe me levou ao médico para ver se havia algum problema comigo.

 Eu desejei que fosse algo errado, sim! E era ... depois de uns exames descobri-me hermafrodita. 

Tinha sim os órgãos sexuais femininos externos, mas tinha também órgãos masculos internamente. Por isso que meu corpo não era nem feminino nem masculino, meus seios não haviam se desenvolvido.

Quando, finalmente, foi-me dada a escolha eu optei, obviamente, pelo sexo masculino. Hoje eu sou quem eu sempre quis ser, um homem - e foi porque realmente Deus me "atendeu".

Devido a essas experiências aprendi a ser um homem que dá valor aos mínimos detalhes e sabe o quão difícil é conviver com o preconceito. 

Tenho 22 anos e estou no 11º período em medicina, por todo o meu passado eu resolvi que nasci para ajudar as pessoas e fazer o máximo possível para minimizar seus traumas.

 Obrigado pela atenção de todos(as), sinto-me bem ao compartilhar minha história com vocês.

 * Eduardo

6 comentários:

Elis disse...

Nossa, que historia!!! Espero que vc consiga ajudar muita gente! Abs

Anônimo disse...

Muito sucesso pra vc! bjs. Li

Janie... disse...

Caraaamba! Que trama! Imprevisível!

Anônimo disse...

que bacana! muito sucesso pra ti :D

"MÚSICA BOA" disse...

Noooossa, q história!!!

Anônimo disse...

E a moça ainda a viu?